terça-feira, 29 de abril de 2014

Famílias com filhos adotivos

     
      

         O que se pode perceber é que, quando o casal apresenta dificuldades em engravidar, existe a possibilidade de que um dos parceiros seja impossibilitado de ter filhos, o qual, normalmente, pode passar a se sentir culpado e em dívida com o parceiro por não poder lhe dar um filho biológico. Neste contexto a adoção aparece como um recurso a ser considerado. E, quando isso acontece, é preciso que o casal avalie bem esta decisão, considerando os reais motivos que impulsionaram nesta decisão, bem como, como ela afetará a realidade do casal futuramente. Atentando-se ao fato de que, quando um dos parceiros toma a decisão de adotar um filho com a intensão de se quitar uma dívida com o outro, o relacionamento pode acabar assim que a dívida é quitada, ou seja, logo após a adoção, uma vez que não há mais motivos que liguem o casal. 
          Dessa forma, a decisão de adotar um filho deve ser a mesma de quando o casal decide engravidar. Isto é, com a intenção de construir uma família, de modo que deve ser feita em conjunto entre o casal e de forma que integre esse novo membro como parte efetiva da família. Assim, o casal precisa planejar a adoção, considerando todos os fatores envolvidos nessa decisão, ao mesmo tempo em que precisam avaliar a qualidade dos laços que serão capazes de estabelecer com este filho não biológico. Neste ponto, vale frisar que, casais inférteis precisam elaborar o luto pela criança que não pôde ser concebida antes de procurarem a adoção. Uma vez que, a acriança adotada, mesmo oferecendo a oportunidade de contemplar a família, será também a eterna lembrança de que o casal não pode ter filhos, de modo que esta visão pode ser prejudicial para o desenvolvimento familiar. 
         No entanto, não é só o casal que deve se preparar para receber este filho. A criança adotada também precisa ser preparada para ser entregue a uma nova família, pois ela será encaminhada para um novo lar, diferente de tudo que ela já tenha vivenciado anteriormente, são novas regras, valores e  novas formas de se relacionar. E é por isso que o período de adaptação e ambientação familiar que antecede a adoção é primordial para o seu sucesso. Contudo, adotar uma criança não é uma decisão exclusiva de casais inférteis ou que ainda não tenham filhos. Nestes casos, o remanejo familiar é ainda maior, pois existem outros fatores envolvidos, já que esta criança deverá ser recebida também por seus irmãos, sendo eles filhos biológicos ou não de seus pais adotivos. Ademais, mesmo que os sentimentos dos pais pela criança adotada possam ser os mesmos por um filho biológico, é preciso destacar que a situação não é a mesma, uma vez que o fato de uma criança ser adotiva traz as suas especificidades.
         Além disso, é importante atentar para o fato de que a adoção é sempre uma via de mão dupla. Ou seja, não é só o casal que tem direito em ter filhos, é também direito da criança de ter uma família. Neste sentido, ao adotar uma criança, os pais precisam ter em mente que não podem esperar que a criança adotada corresponda todas as suas expectativas familiares, mas sim que eles, enquanto pais, possam corresponder às necessidades daquela criança, assim como deve ser feito com um filho biológico. Não é justo com nenhuma criança, seja qual for a circunstância, que os pais depositem nelas expectativas que elas não tenham condições de corresponder, uma vez que são elas quem mais precisam de apoio e cuidado, principalmente no caso de uma criança adotada. Por outro lado, tem sido observado também que muitos pais adotivos podem apresentar dificuldades em impor limites, particularmente, quando a criança tenha saído de um contexto desfavorável. Desse modo, correm o risco de superprotegerem essa criança, focando apenas nas suas necessidades e carências e se esquecendo de impor limites ao filho, o que pode ocasionar em futuros conflitos, além de prejudicar seu desenvolvimento.
        Sendo assim, o processo de adoção nunca é um ato simples, pois pode ser seguido por dificuldades tanto na oficialização do ato, quanto na aceitação da criança e adaptação da família. E, o que tem sido percebido é que os primeiros meses logo após a adoção podem ser decisivos para a prevenção de futuras dificuldades, justamente por ser o período de  maior adaptação familiar. Sendo muito comum a família apresentar dificuldades de convivência, principalmente no caso de uma adoção tardia, quando a criança tem mais de dois anos. Neste sentido, é preciso que os pais tenham consciência de que os conflitos sempre irão existir e podem aparecer a qualquer momento, mesmo com os filhos biológicos. Sabendo disso, é possível contornar melhor essas situações quando vierem a acontecer. 
      Cabe ainda uma breve discussão acerca da origem da criança adotada. É preciso que os pais adotivos consigam compreender a importância de não se negar a criança o seu passado, uma vez que ele está e estará sempre ligado a ela. Desse modo, é importante que a verdade seja contada para a criança desde o início, pois a criança tem o direito de saber suas origens, ainda que não tenha condições de compreendê-la. Entretanto, muitos casais optam por não falar a verdade com receio de que os filhos se sintam menos amados por serem adotados, principalmente quando o casal tem filhos biológicos. Outros, temem que a criança possa querer procurar os pais biológicos em algum momento de suas vidas e acabem se esquecendo e/ou distanciando, ou até mesmo se rebelando contra sua família adotiva. O que  de fato pode vir a acontecer quando a criança atinge a adolescência, por ser a fase de maiores conflitos e questionamentos, o que vale também para filhos biológicos, pois estes sentem mais necessidades de conhecer suas raízes. Assim, é comum que nesta idade tenham mais curiosidade e interesse em saber de sua história, como parte de um processo de autoafirmação bastante comum na puberdade, o que não quer dizer que a família não conseguirá contornar este conflito de forma satisfatória. Além disso, tem sido bastante observado que saber de sua origem é tão direito da criança quanto de ter o seu nome verdadeiro preservado, dado que o nome está diretamente relacionado com a identidade que carregamos. Desse modo, ao invés de trocar o nome da criança, é mais apropriado se acrescentar um novo nome ao que ela já carrega, de forma que este novo nome possa preservar a origem da criança, ao mesmo tempo em que possa contemplar sua integração em sua família adotiva.
     Para finalizar, é importante ressaltar que, mesmo com todas as suas especificidades, adotar um filho nada mais é do que se tornar pais de uma criança, exatamente como é ter um filho biológico. E, se recorremos ao dicionário de língua portuguesa, podemos encontrar como sinônimos para adotar: escolher, tomar como próprio, receber, aceitar, o que significa que a adoção seria a escolha de um filho. 
  
  Ψ Famílias com filhos adotivos em Psicoterapia: É comum casais que encontram dificuldades em engravidar procurarem a psicoterapia como um suporte neste processo. Nestes casos, é preciso considerar que existem fatores psicológicos e circunstanciais que podem influenciar neste momento e dificultar o processo, no entanto, não o impossibilita, o que deve ser trabalhado com o casal. Noutros casos, existem fatores biológicos que podem ser determinantes neste momento, de tal modo que, quando se é constatado que o casal não pode engravidar, a psicoterapia pode auxiliar para que possam lidar com essa impossibilidade e assim planejar a adoção, considerando todos os impactos que ela terá sobre o sistema conjugal e familiar. Quando um casal que já têm filhos optam por adotar, a psicoterapia familiar pode ser útil para ajudar no planejamento, aceitação e adaptação de cada um dos membros familiares para receber e integrar este novo membro da melhor maneira possível. Além disso, a psicoterapia pode auxiliar também a criança adotada a se adaptar ao novo lar e a superar possíveis traumas que possam ter se instalado devido as suas condições de vida anteriores à adoção, bem como o fato de ter sido abandona, o que pode contribuir para o desenvolvimento de futuros sintomas.