segunda-feira, 30 de julho de 2012

Para refletir...





Faxina na Alma
Autor: Carlos Drummond de Andrade

Não importa onde você parou... em que momento da vida você cansou...
O que importa é que sempre é possível e necessário recomeçar.
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...
É renovar as esperanças na vida e o mais importante, acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período? Foi aprendizado...
Chorou muito? Foi limpeza da alma...
Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las um dia...
Sentiu-se só por diversas vezes? É porque fechaste a porta até para os anjos...
Acreditou que tudo estava perdido? Era o início de sua melhora...
Pois é... agora é hora de reiniciar... de pensar na luz...
De encontrar prazer nas coisas simples de novo.
Que tal um novo emprego?
Uma nova profissão?
Um corte de cabelo arrojado, diferente?
Um novo curso... ou aquele velho desejo de aprender a pintar...
Desenhar... dominar o computador... ou qualquer outra coisa...
Olha quanto desafio... quanta coisa nova nesse mundão de meu Deus te esperando.
Esta se sentindo sozinho? Besteira...
Tem tanta gente que você afastou com o seu "período de isolamento"...
Tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu para "chegar" perto de você.
Quando nos trancamos na tristeza... nem nós mesmos nos suportamos...
Ficamos horríveis... o mau humor vai comendo nosso fígado... até a boca fica amarga.
Recomeçar... hoje é um bom dia para começar novos desafios 
Onde você quer chegar?
Ir alto... sonhe alto... queira o melhor do melhor...
Queira coisas boas para a vida...
Pensando assim trazemos para nós aquilo que desejamos...
Pensando pequeno... coisas pequenas teremos...
Já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente se lutarmos pelo melhor... o melhor vai se instalar na nossa vida.
E é hoje o dia da faxina mental...
Jogue fora tudo que te prende ao passado...
Ao mundinho de coisas tristes... fotos... peças de roupa... papel de bala... ingressos de cinema... bilhetes de viagens.... e toda aquela tranqueira que guardamos quando nos julgamos apaixonados...
Jogue tudo fora... mas principalmente... esvazie seu coração... fique pronta para a vida... para um novo amor...
Lembre-se somos apaixonáveis... somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes... afinal de contas... nós somos o "Amor"...
Porque somos do tamanho daquilo que vemos, e não do tamanho da nossa altura.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Casais Contemporâneos


        As relações conjugais são constantemente atravessadas pelos ideais socioculturais. Em se tratando da sociedade contemporânea, que tende para a autonomia e independência do indivíduo, mesmo em uma relação amorosa, pergunta-se: Como os casais têm lidado com esta realidade em meio à relação conjugal?
       A conjugalidade pode ser entendida como sendo um processo de construção de uma realidade comum, na qual, cada cônjuge terá o encargo de reconstruir sua realidade individual e assim administrar seus projetos individuais, para que possam ir juntos criando referências e projetos comuns ao casal.
         No entanto, a sociedade contemporânea propicia cada vez mais para a satisfação pessoal e a possibilidade de viver sem depender do outro, o que possibilitou mudanças no vínculo conjugal. Neste contexto, a autonomia dos cônjuges é posta em destaque, se é valorizado mais a satisfação de cada um do que os laços de dependência entre eles. Contudo, para a união de um casal é preciso que ambos os cônjuges se deem conta das diferenças existentes entre eles e da importância de aprender a lidar com elas, mesmo que, em certos momentos, não seja possível a satisfação pessoal.
        Assim, o casal contemporâneo é confrontado o tempo todo por duas forças paradoxais, pois de um lado estão os ideais individualistas, que estimulam a autonomia dos cônjuges, enfatizando que o casal deve sustentar o crescimento e o desenvolimento de cada um. Por outro lado, surge a necessidade de vivenciar a conjugalidade, isto é, a realidade comum do casal. Sendo assim, uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos casais está na criação de laços significativos que permitam projetos conjugais, sem excluir, seus projetos individuais, que possibilitam a autonomia de cada um. No entanto, muitas vezes a valorização dos espaços individuais significa fragilizar os espaços conjugais, assim como fortalecer a conjugalidade demanda, quase sempre, em ceder diante das individualidades.
         Na contemporaneidade, a conjugalidade aparece como uma possibilidade de realização pessoal, podendo ser fragilizada à medida que os cônjuges não apresentem desejos compatíveis, o que, inevitavelmente, tornou o vínculo mais vulnerável, e consequentemente a recusa das relações sentidas como insatisfatórias. Nesta direção, a ideia de durabilidade do relacionamento por meio do casamento passa a ser questionada, uma vez que a relação conjugal vai se mantendo apenas enquanto for prazerosa e proveitosa para ambos os cônjuges.
     A contemporaneidade proporciona ao vínculo conjugal então a possibilidade de questionamento da relação em termos de satisfação. Tornando viável entre os cônjuges a contestação sobre como cada um se sente em relação ao outro, bem como se os sentimentos existentes entre o casal são suficientes para manter um relacionamento prolongado. Como resultado, desde a formação do laço conjugal, a dissolução é tida como uma possibilidade, ainda que o sentimento amoroso permaneça com suas promessas de união eterna. No entanto, mesmo com o aumento gradativo dos divórcios e fins de relacionamentos, à medida que os parceiros não apresentem mais desejos comuns, o sujeito contemporâneo parece se sentir livre para encontrar um novo relacionamento que possa satisfazê-los, de modo que não tem desistido das relações amorosas e dos casamentos, que continuam a acontecer. Entretanto, têm encontrado dificuldades em manter um vínculo conjugal duradouro, visando o equilíbrio entre os projetos conjugais e individuais.

ΨCasais contemporâneos em psicoterapia: A psicoterapia de casal é sempre uma possibilidade de rever o vínculo conjugal e assim buscar as mudanças necessárias, que devem acontecer de acordo com o que o casal apresente como sendo o projeto conjugal, o qual, em toda a sua extensão deve, necessariamente, acoplar seus projetos individuais. A união de um casal sempre pressupõe o estabelecimento de projetos de vida em comum, o que não quer dizer que os parceiros devam viver para a relação e se esquecer de suas particularidades, nem tão pouco significa que este projeto deva ser único. Cabe aos cônjuges rever, constantemente seus projetos conjugais e propor maneiras de incluir os projetos pessoais, que também devem ser constantemente renovados. É importante ressaltar que, a existência de projetos individuais não denota o enfraquecimento do vínculo conjugal. Neste sentido, a psicoterapia tem por objetivo auxiliar o casal na construção e manutenção de seus projetos conjugais e individuais, de acordo com seus ciclos de vida e possibilidade atuais.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Para refletir...




Descomplicar
Autora: Leila Ferreira

    Se eu tivesse que escolher uma palavra - apenas uma - para ser item obrigatório no vocabulário da mulher de hoje, essa palavra seria um verbo de quatro sílabas: descomplicar.

      Depois de infinitas (e imensas) conquistas, acho que está passando a hora de aprendermos a viver com mais leveza: exigir menos dos outros e de nós próprias, cobrar menos, reclamar menos, carregar menos culpa, olhar menos no espelho. Descomplicar talvez seja o atalho mais seguro para chegarmos à tão falada qualidade de vida que queremos - e merecemos - ter.

      Mas há outras palavras que não podem faltar no kit existencial da mulher moderna.

     Amizade, por exemplo. Acostumadas a concentrar nossos sentimentos (e nossa energia...) nas relações amorosas, acabamos deixando as amigas em segundo plano. E nada, mas nada mesmo, faz tão bem para uma mulher quanto a convivência com as amigas. Ir ao cinema com elas (que gostam dos mesmos filmes que a gente), sair sem ter hora pra voltar, compartilhar uma caipivodka de morango ou suco e repetir as histórias que já nos contamos mil vezes - isso, sim, faz bem pra pele. Para a alma, então, nem se fala. Ao menos uma vez por mês, deixe o marido ou namorado em casa, prometa-se que não vai ligar para ele nem uma vez (desligue o celular, se preciso for) e desfrute de prazeres que só uma boa amizade consegue proporcionar.

     E, já que falamos em desligar o celular, incorpore ao seu vocabulário duas palavras que têm estado ausentes no cotidiano feminino: pausa e silêncio. Aprenda a parar, nem que seja por cinco minutos, três vezes por semana, duas vezes por mês, ou uma vez por dia - não importa - e a ficar em silêncio. Essas pausas silenciosas nos permitem refletir, contar até 100 antes de uma decisão importante, entender melhor os próprios sentimentos, reencontrar a serenidade e o equilíbrio quando é preciso.

    Também abra espaço, no vocabulário e no cotidiano, para o verbo rir. Não há creme anti-idade nem botox que salve a expressão de uma mulher mal-humorada. Azedume e amargura são palavras que devem ser banidas do nosso dia a dia. Se for preciso, pegue uma comédia na locadora, preste atenção na conversa de duas crianças, marque um encontro com aquela amiga engraçada - faça qualquer coisa, mas ria. O riso nos salva de nós mesmas, cura nossas angústias e nos reconcilia com a vida. 

    Quanto à palavra dieta, cuidado: mulheres que falam em regime o tempo todo costumam ser péssimas companhias. Deixe para discutir carboidratos e afins no banheiro feminino ou no consultório do endocrinologista. Nas mesas de restaurante, nem pensar.

   Uma sugestão? Tente trocar a obsessão pela dieta por outra palavra que, essa sim, deveria guiar nossos atos 24 horas por dia: gentileza. Ter classe não é usar roupas de grife: é ser delicada. Saber se comportar é infinitamente mais importante do que saber se vestir. Resgate aquele velho exercício que anda esquecido: aprenda a se colocar no lugar do outro, e trate-o como você gostaria de ser tratada, seja no trânsito, na fila do banco, na empresa onde trabalha, em casa, no supermercado, na academia. 

   E, para encerrar, não deixe de conjugar dois verbos que deveriam ser indissociáveis da vida: sonhar e recomeçar. Sonhe com aquela viagem ao exterior, aquele fim de semana na praia, o curso que você ainda vai fazer, a promoção que vai conquistar um dia, aquele homem que um dia (quem sabe?) ainda vai ser seu, sonhe que está beijando o Richard Gere... sonhar é quase fazer acontecer. Sonhe até que aconteça. E recomece, sempre que for preciso: seja na carreira, na vida amorosa, nos relacionamentos familiares. A vida nos dá um espaço de manobra: use-o para inventar a si mesma.

  E por último (agora, sim, encerrando), risque do seu Aurélio a palavra perfeição. O dicionário das mulheres interessantes inclui fragilidades, inseguranças, limites. Pare de brigar com você mesma para ser a mãe perfeita, a dona de casa impecável, a profissional que sabe tudo, a esposa nota mil. Acima de tudo, elimine de sua vida o desgaste que é tentar ter coxas sem celulite, rosto sem rugas, cabelos que não arrepiam, bumbum que encara qualquer biquíni. Mulheres reais são mulheres imperfeitas. E mulheres que se aceitam como imperfeitas são mulheres livres. Viver não é (e nunca foi) fácil, mas, quando se elimina o excesso de peso da bagagem (e a busca da perfeição pesa toneladas), a tão sonhada felicidade fica muito mais possível.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Fronteiras Familiares


      A estrutura familiar é formada por um conjunto invisível de exigências funcionais que organizam a maneira pela qual seus membros interagem entre si. A interação entre seus membros se dá por meio de fronteiras que delimitam o contato entre os subsistemas familiares, em outras palavras, demarcam os limites entre os subsistemas parental, conjugal e fraternal.  
   Quando um casal se une com o propósito de formar uma família, surge o subsistema conjugal. Com a chegada do primeiro filho este subsistema deve se readaptar, devendo se diferenciar para então desempenhar as tarefas de socialização da criança, sem perder o apoio mútuo característico do subsistema conjugal, surge então o subsistema parental.
        As primeiras relações de iguais se dão na convivência com os irmãos, isto é, dentro do subsistema fraternal. Imersos neste contexto as crianças experienciam como negociar, competir e compartilhar. Aprendendo ainda como fazer amizades e aliados, sendo capaz, portanto, de conhecer suas habilidades. Além disso, estabelecem as primeiras formas de contato, que serão adotadas posteriormente, com o mundo extrafamiliar. Neste sentido, filhos únicos podem apresentar tendências a se desenvolver precocemente, apresentando um padrão rápido de acomodação ao mundo adulto. Em contrapartida, podem apresentar dificuldades em desenvolver sua autonomia e a capacidade de compartilhar, cooperar e competir com os outros. 
        Para que a família consiga alcançar um nível satisfatório de funcionamento é necessário que as fronteiras entre seus subsistemas sejam nítidas. Ou melhor, devem ser suficientemente bem definidas ao ponto de permitir que os membros de cada subsistema possam exercer suas funções sem a interferência do outro, ao mesmo tempo em que permitam a comunicação e o contato entre eles.
        As fronteiras interpessoais irão variar de acordo com as famílias, demarcando assim o tipo de interação existente no sistema familiar. Algumas famílias têm tendência a apresentar fronteiras desligadas, isto é, rígidas demais, tornando-se restritivas e possibilitando pouco contato entre os subsistemas, resultando em um distanciamento entre os membros, de tal forma que os indivíduos tornam-se excessivamente distanciados e, relativamente isolados e autônomos. Por outro lado, determinadas famílias irão apresentar fronteiras emaranhadas, difusas, a tal ponto que o sentimento de pertencimento nos membros requer uma máxima renúncia de sua autonomia, de tal modo que a falta de diferenciação dificulta o domínio das dificuldades enfrentadas.
    Assim, em uma família emaranhada, o comportamento de um dos membros, inevitavelmente, irá afetar o outro. Desta forma, o mínimo nível de estresse individual poderá repercutir entre as fronteiras e atingir os outros subsistemas. Em contra partida, famílias desligadas terão maior capacidade de tolerância quanto às variações individuais de seus membros. Contudo será necessário um nível mais elevado de estresse individual para afetar suas rígidas fronteiras, e assim ativar o apoio familiar. O que se pode observar é que em ambos os casos de interação familiar causam problemas quando são evocados mecanismos adaptativos, pois famílias emaranhadas respondem às variações nos subsistemas com excessiva rapidez e intensidade, enquanto as famílias desligadas tende a não responder diante a uma necessidade de resposta.
     Cabe ressaltar que, enquanto crianças, os filhos têm tendência a apresentar fronteiras difusas com os pais, tendo como base sua dependência para com eles. À medida que os filhos vão crescendo, vão também conquistando sua autonomia, assim, ocorre uma tendência para o desligamento das fronteiras, pois dão início ao seu processo de separação dos pais. Neste sentido, a família deve zelar para que esse desligamento não aconteça de forma rígida, tomando cuidado ainda para que o excesso de zelo não tornem suas fronteiras difusas. Explico, as famílias devem ser capazes de ir se readaptando a cada novo ciclo de vida de seus membros, propondo assim, a manutenção de suas fronteiras, de tal modo que os subsistemas possam interagir entre si, ao mesmo tempo que possa preservar a privacidade e a singularidade de cada um.

ΨAs fronteiras familiares na psicoterapia de família: A psicoterapia de família visa à manutenção do padrão de funcionamento familiar, para tanto, é fundamental entender as fronteiras familiares, pois são elas que ditam o padrão de interação estabelecido no sistema familiar, bem como o mecanismo de aproximação e distanciamento existente entre os membros familiares. Neste sentido, a psicoterapia tem por objetivo trabalhar a interação dentro do sistema familiar, auxiliando a família na delimitação (fortalecimento ou enfraquecimento) e em alguns casos até mesmo na construção de suas fronteiras familiares, visando padrões relacionais mais sadios, onde cada um respeita o espaço do outro, e assim, a identidade individual de cada membro, ao mesmo tempo em que fortalece a identidade familiar.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Para refletir...


Tênis X Frescobol
Autor: Rubem Alves

               Depois de muito meditar sobre o assunto conclui que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
          Explico-me. O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se o tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
             O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário, porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro sente-se culpado. Mas não tem importância:começa-se de novo este delicioso jogo que ninguém marca pontos...
           A bola são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...
       Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam a espera do momento certo para a cortada. Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui quem ganha sempre perde.
           Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaço para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

DESenvolver

     
    Afinal o que significa desenvolver? Se recorrermos ao dicionário podemos encontrar como sinônimo pra desenvolver a palavra crescer. Assim, para muitos desenvolver é um processo natural pelo qual todos nós, inevitavelmente, iremos passar ao longo da vida. Ou seja, seria apenas o avanço da fase infantil para o amadurecimento da adolescência e assim a chegada à idade adulta e velhice, mas...Será???
       Desenvolver é mais do que isto, trata-se da construção da identidade pessoal. Considerando a identidade como sendo os atributos específicos de cada um, isto é, o conjunto de características exclusivas que diferenciam as pessoas, podemos dizer que desenvolver seria justamente o processo de se diferenciar dos outros. Ou seja, tornar-se independente e autônomo.
        O que podemos perceber é que toda criança nasce indiferenciada em relação à sua família e, no decorrer de seu desenvolvimento terá que aprender a se diferenciar para alcançar autonomia e independência dos pais. À mediada que a criança vai se desenvolvendo, vai também construindo sua identidade pessoal, tendo como base a identificação com seu sistema familiar e a relação que mantém com este, absorvendo os papéis e as atitudes daqueles que participam de seu convívio.
       Assim, a forma pela qual os pais irão corresponder às necessidades da criança poderão proporcionar as condições básicas para a construção da identidade pessoal do filho, delimitando as áreas de autonomia e dependência. Espera-se dos pais que proporcionem condições para que seus filhos se desenvolvam e tornem-se sujeitos autônomos, capazes de tomar suas próprias decisões, podendo refletir e discernir sobre suas próprias escolhas e não pelos construtos das pessoas que a cercam. Neste sentido, a formação da identidade pessoal será atravessada por dois sentidos, um de pertencimento ao seu sistema familiar, através da participação e compartilhamento das crenças e valores familiares, e outro de separação, que seria a afirmação de sua singularidade, de sua individuação e de seu direito de pensar e se expressar, independentemente dos valores defendidos por sua família, quando passa a defender seus próprios construtos e agir de acordo com eles.
         Podemos afirmar então que desenvolver é um processo pelo qual nem todos estão aptos a desempenhar, nem tão pouco trata-se de um processo inerente a existência humana. E sim, de “des-envolver” de sua família de origem para ser capaz de se tornar sujeito de sua própria vida. Assim, a participação da família no processo de desenvolvimento de uma criança é fundamental, pois, é nesse ambiente que a criança aprende a adquirir habilidades, a se relacionar e se posicionar diante do outro, bem como a forma como este sujeito, ainda em formação, irá vivenciar e perceber o mundo, e assim perceber a si mesmo.


ΨPsicoterapia do desenvolver: Todo processo psicoterápico é também um processo de individuação que auxilia o indivíduo no seu processo de autoconhecimento e na tomada de consciência do seu padrão de funcionamento, auxiliando ainda no seu processo de pertencimento e diferenciação de sua família. Tem por objetivo ajudar o indivíduo em seu processo de desenvolver, tornando-o apto a construir seu próprio caminho e a reconhecer suas possibilidades, para que assim, seja capaz de realizar as mudanças necessárias em sua vida. Neste processo, a psicoterapia deve trabalhar os lutos naturais decorrentes do processo de individuação, ou seja, do processo de tornar-se diferenciado e independente de seu sistema familiar.