sexta-feira, 27 de julho de 2012

Casais Contemporâneos


        As relações conjugais são constantemente atravessadas pelos ideais socioculturais. Em se tratando da sociedade contemporânea, que tende para a autonomia e independência do indivíduo, mesmo em uma relação amorosa, pergunta-se: Como os casais têm lidado com esta realidade em meio à relação conjugal?
       A conjugalidade pode ser entendida como sendo um processo de construção de uma realidade comum, na qual, cada cônjuge terá o encargo de reconstruir sua realidade individual e assim administrar seus projetos individuais, para que possam ir juntos criando referências e projetos comuns ao casal.
         No entanto, a sociedade contemporânea propicia cada vez mais para a satisfação pessoal e a possibilidade de viver sem depender do outro, o que possibilitou mudanças no vínculo conjugal. Neste contexto, a autonomia dos cônjuges é posta em destaque, se é valorizado mais a satisfação de cada um do que os laços de dependência entre eles. Contudo, para a união de um casal é preciso que ambos os cônjuges se deem conta das diferenças existentes entre eles e da importância de aprender a lidar com elas, mesmo que, em certos momentos, não seja possível a satisfação pessoal.
        Assim, o casal contemporâneo é confrontado o tempo todo por duas forças paradoxais, pois de um lado estão os ideais individualistas, que estimulam a autonomia dos cônjuges, enfatizando que o casal deve sustentar o crescimento e o desenvolimento de cada um. Por outro lado, surge a necessidade de vivenciar a conjugalidade, isto é, a realidade comum do casal. Sendo assim, uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos casais está na criação de laços significativos que permitam projetos conjugais, sem excluir, seus projetos individuais, que possibilitam a autonomia de cada um. No entanto, muitas vezes a valorização dos espaços individuais significa fragilizar os espaços conjugais, assim como fortalecer a conjugalidade demanda, quase sempre, em ceder diante das individualidades.
         Na contemporaneidade, a conjugalidade aparece como uma possibilidade de realização pessoal, podendo ser fragilizada à medida que os cônjuges não apresentem desejos compatíveis, o que, inevitavelmente, tornou o vínculo mais vulnerável, e consequentemente a recusa das relações sentidas como insatisfatórias. Nesta direção, a ideia de durabilidade do relacionamento por meio do casamento passa a ser questionada, uma vez que a relação conjugal vai se mantendo apenas enquanto for prazerosa e proveitosa para ambos os cônjuges.
     A contemporaneidade proporciona ao vínculo conjugal então a possibilidade de questionamento da relação em termos de satisfação. Tornando viável entre os cônjuges a contestação sobre como cada um se sente em relação ao outro, bem como se os sentimentos existentes entre o casal são suficientes para manter um relacionamento prolongado. Como resultado, desde a formação do laço conjugal, a dissolução é tida como uma possibilidade, ainda que o sentimento amoroso permaneça com suas promessas de união eterna. No entanto, mesmo com o aumento gradativo dos divórcios e fins de relacionamentos, à medida que os parceiros não apresentem mais desejos comuns, o sujeito contemporâneo parece se sentir livre para encontrar um novo relacionamento que possa satisfazê-los, de modo que não tem desistido das relações amorosas e dos casamentos, que continuam a acontecer. Entretanto, têm encontrado dificuldades em manter um vínculo conjugal duradouro, visando o equilíbrio entre os projetos conjugais e individuais.

ΨCasais contemporâneos em psicoterapia: A psicoterapia de casal é sempre uma possibilidade de rever o vínculo conjugal e assim buscar as mudanças necessárias, que devem acontecer de acordo com o que o casal apresente como sendo o projeto conjugal, o qual, em toda a sua extensão deve, necessariamente, acoplar seus projetos individuais. A união de um casal sempre pressupõe o estabelecimento de projetos de vida em comum, o que não quer dizer que os parceiros devam viver para a relação e se esquecer de suas particularidades, nem tão pouco significa que este projeto deva ser único. Cabe aos cônjuges rever, constantemente seus projetos conjugais e propor maneiras de incluir os projetos pessoais, que também devem ser constantemente renovados. É importante ressaltar que, a existência de projetos individuais não denota o enfraquecimento do vínculo conjugal. Neste sentido, a psicoterapia tem por objetivo auxiliar o casal na construção e manutenção de seus projetos conjugais e individuais, de acordo com seus ciclos de vida e possibilidade atuais.