Já durante a gravidez a família começa a vivenciar as mudanças da
chegada do segundo filho. Assim, logo após a notícia da gravidez, já se inicia
o processo de adaptação e percepção da família desse novo ciclo. De tal modo que
as relações e interações familiares durante toda a gestação irão dar indícios
de como será a adaptação da família após o nascimento do segundo filho.
A
chegada de um novo membro na família pode gerar um aumento na tensão familiar,
pois traz consigo a necessidade de reformulação nos papéis e nas regras de
funcionamento e interação familiar, havendo alterações no nível individual e de
todo o sistema de um modo distinto. Isto porque a chegada do segundo filho caracteriza uma fase de
expansão do sistema familiar e é completamente diferente do processo de
nascimento do primeiro filho.
O casal, que já havia assumido o papel parental
no momento da chegada do primeiro filho, precisa agora se preparar e se
organizar para assumir o papel de pais de dois filhos. Além disso, a relação conjugal constitui a principal fonte de apoio à mulher no
período da gestação e nos primeiros meses após a chegada de um filho. De tal
modo que o bem estar materno, muitas vezes, fica associado à qualidade da
relação conjugal e do apoio recebido pelo marido.
Cabe ressaltar que, com a sobrecarga
do trabalho devido aos cuidados do bebê, a atenção e o cuidado dos filhos, bem
como a divisão de tarefas domésticas precisam ser redefinidas, especialmente
quando ambos os pais trabalham fora. É justamente essa necessidade de
renegociação de tarefas que comumente aparece como o principal gerador de
conflitos entre os casais com filhos pequenos. Além disso, o pouco tempo a sós que
resta ao casal, devido às constantes demandas dos filhos, parece ameaçar os
momentos de intimidade entre o casal. Dessa forma, o casal precisa aprender a criar um espaço próprio de convivência e apoio mútuo,
equilibrando o tempo e energia com as demais atividades a serem realizadas.
Contudo,
o maior impacto parece ser sentido pelo primogênito, que tem agora que passar do papel de filho único para o de irmão mais
velho. Além disso, com o nascimento do segundo filho, todo o ambiente social do primogênito
é afetado. Isto é, sua relação com os genitores é modificada e ele passa ainda
a ter que conviver com uma nova criança, a qual se apresenta pouco preparada
para interagir com ele.
Muitos primogênitos começam a dar sinais de sua dificuldade em receber um irmãozinho já no momento em que recebe a notícia de sua chegada, momento este em que a criança já começa a concretizar e imaginar a nova realidade da família, bem como as diferenças em sua maneira de interagir com os genitores. Dessa forma, muitos primogênitos tendem a apresentar um comportamento infantilizado para sua idade, com aumento de introversão, no choro, agitação e agressividade. Além de demostrarem problemas relacionais e de autoestima,
com significativo aumento nas exigências e demanda aos genitores. Na maioria das vezes, as mudanças comportamentais do primogênito, nada mais são do que estratégias para rever as interações e a atenção desfrutada até o momento com os pais. E, com
o passar do tempo, gradativamente, vão retornando ao seu padrão de funcionamento normal.
Ψ A Chegada do Segundo Filho e Psicoterapia: No momento da chegada do segundo filho, a psicoterapia de família auxilia na readaptação deste sistema para a nova realidade. O casal precisa se preparar para os diferentes papéis empenhados, protegendo o espaço do casal, ao mesmo tempo que devem redistribuir suas tarefas e a atenção entre os dois filhos. E ainda, preparar o primogênito para a cegada de um irmão e para as mudanças que ocorrerão na família. Por sua vez, o primogênito precisa compreender o que representa a entrada de um novo membro na família e o que isso significa em relação ao seu papel de irmão velho.